Centenas de produtores jorgenses ordenham diariamente as suas vacas e entregam milhares de litros de leite em várias cooperativas que são utilizados para produzir toneladas de queijo típico de São Jorge, Açores.
Fonte da Secretaria Regional da Agricultura garantiu à Lusa que no ano de 2008 foram fabricados cerca de 2350 toneladas de queijo certificado na Ilha de São Jorge, tendo sido entregues mais de 27 milhões de litros de leite nas várias cooperativas pelos 434 produtores da ilha.
São 08:00 e o senhor Serafim já começou a ordenhar a primeira de nove vacas, um processo que repete manualmente todos os dias, de manhã e de tarde, demorando entre 5 a 10 minutos cada uma. Com 65 anos de idade, Serafim Brasil, natural de São Jorge, faz este ritual todos os dias desde os seus 16 anos, altura em que aprendeu a ordenhar. Diariamente entrega cerca de 60 litros de leite na queijaria da sua freguesia, que corresponde a 24 euros diários, sendo o litro vendido a 40 cêntimos. “O leite está caro para quem o bebe, não para quem o produz”, afirmou o produtor, que confessa adorar os animais, apesar de serem “muito traiçoeiros”.
Ao contrário do senhor Serafim, o produtor Pedro Fontes da Silveira prefere ordenhar de forma mecânica, pois “a ideia de ir ao pasto, criar a vaquinha e olhar para ela, na prática, hoje em dia não existe”. O jovem investiu recentemente cerca de 150 mil euros num projecto de exploração agrícola, que contou com o apoio do governo regional. Cada uma das 19 vacas que ordenha diariamente, demorando entre 2 a 5 minutos, vale entre 1000 e 1500 euros e produz cerca de 20 litros por dia. Pedro Silveira considera que “actualmente São Jorge consegue ter o melhor leite dos Açores e mesmo em termos nacionais está no ‘top’, qualitativamente, obviamente”.
O facto das vacas terem de ser todos os dias ordenhadas de manhã e de tarde condiciona a vida pessoal do produtor, que afirma não saber o que são feriados e fins-de-semana, folgando apenas quando encontra substituto.
O facto das vacas terem de ser todos os dias ordenhadas de manhã e de tarde condiciona a vida pessoal do produtor, que afirma não saber o que são feriados e fins-de-semana, folgando apenas quando encontra substituto.
A Cooperativa Agrícola de Lacticínios dos Lourais, que inaugurou no passado mês de Março as novas instalações, onde esteve presente o presidente regional Carlos César, é uma das fábricas que produzem o típico queijo de São Jorge e onde Pedro Silveira entrega os cerca de 380 litros de leite por dia.
Mais de cinco milhões de litros de leite são entregues anualmente na cooperativa, que conta com 27 funcionários e 80 produtores, que entregam entre 12 a 26 mil litros de leite por dia, dependendo da época do ano.
O presidente da cooperativa contou à Lusa que são fabricados anualmente entre 42 e 43 mil queijos, cada um com 10 ou 12 quilos e vendidos a 50 euros. José Gabriel Gonçalves considera que este queijo é “único e diferente”, sendo a Ilha de São Jorge “das poucas regiões que produz queijo com leite cru”.
O segredo do sabor típico do queijo de São Jorge é da responsabilidade da Dona Zita, de 56 anos de idade. Há 25 anos nesta profissão, a funcionária da Cooperativa dos Lourais afirma sentir “uma grande responsabilidade” em temperar este queijo, pois “é ele a riqueza da ilha”, mas confessa adorar o seu trabalho e sentir um grande orgulho pelos inúmeros elogios que recebe de toda a gente. Segundo caracterizou a Dona Zita, o queijo típico de São Jorge é feito de forma artesanal com leite cru, medindo 30 centímetros por 15.
É um queijo curado de pasta dura ou semi-dura e necessita de um tempo mínimo de cura de 3 meses e tempo máximo de 9 meses.
Reconhecido a nível nacional e internacional, o queijo de São Jorge é considerado como “a riqueza da ilha”, sendo consumido um pouco por todo mundo, mas em especial no continente americano, na região dos Açores e em Portugal Continental.
Filipa Rosa - Agência Lusa - Abril 2009
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