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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Reportagem - Instituição do Pico acolhe crianças abandonadas pelos pais

Criminalidade, abandono, maus-tratos ou absentismo escolar são realidades que fazem parte do passado de algumas das crianças acolhidas pelo novo lar da Obra Social Madre Maria Clara, na Ilha do Pico.

As boas condições, a moderna e colorida decoração e os espaços acolhedores caracterizam o novo lar da instituição, situado na Candelária, concelho de Madalena, que já tem lotação esgotada. Inaugurada em Maio de 2008, a nova casa da Obra Social Madre Maria Clara vai celebrar este ano o seu primeiro Natal. O ambiente vai ser familiar para as crianças acolhidas pela instituição que, segundo a Irmã Catarina, “irão ter uma noite natalícia como qualquer outra criança” numa casa que já consideram ser sua.

A Obra Social Madre Maria Clara, fundada em 1997, é uma instituição a nível regional, que está presente não só no Pico, como também em São Miguel e na Terceira, onde é sedeada.

No Pico existem dois edifícios vizinhos, o lar de acolhimento, que acolhe crianças até aos 12 anos desde o ano 2000 em condições de serem adoptadas, e o lar para jovens, inaugurado este ano, que abriga adolescentes apenas do sexo masculino, a partir dessa idade.

As obras de construção do novo lar foram financiadas pelo Governo Regional em 433 mil euros. A instituição recebe ainda ajudas da Segurança Social e alguns donativos da população.

A coordenação do lar pertence à Irmã Catarina que, com 48 anos de idade, se confessa “feliz e realizada” pelo trabalho que tem desempenhado ao longo dos anos, considerando, contudo, ser difícil em alguns casos.

O novo lar acolhe diariamente 10 adolescentes que se encontravam em situação de risco até serem encaminhados para a instituição, onde encontram na Irmã Catarina e nas restantes Irmãs e funcionários a alegria, o carinho, a dedicação e as normas de como se vive em sociedade que não recebiam no seu meio familiar.

Para a presidente da instituição a nível regional, “os primeiros meses foram um pouco difíceis, porque eles chegam ao lar sem regras nenhumas, com muita rebeldia e agressividade, o que provoca alguma instabilidade”. O facto de não tentarem fugir da instituição é “sinal de satisfação” para a Irmã Catarina, considerada como uma “mãe” para os jovens.

Hóquei em patins, futebol, vela, ténis de mesa e escutismo são algumas das actividades praticadas pelos adolescentes semanalmente, ao fim-de-semana ou depois do horário escolar. Um dos principais objectivos dos responsáveis é inserir os jovens na sociedade, o que “por vezes se torna difícil”, segundo contou a Irmã, que critica o facto dos adultos muitas vezes excluírem mais as crianças do lar do que os próprios colegas da escola que frequentam.

As crianças que se encontram em situação de risco são encaminhadas para a instituição, quando a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens ou o tribunal detectam os casos, sendo posteriormente avaliados e aceites ou não.

A negligência que as crianças sofreram por parte dos pais, nomeadamente maus-tratos e abandono, provocaram em muitas delas a entrada na criminalidade e o absentismo escolar.

O lar de acolhimento, situado mesmo ao lado do lar para jovens, acolhe diariamente 15 crianças até aos 12 anos de idade, em situação de possível adopção.

Em Agosto deste ano foram adoptadas três crianças por uma família residente na Ilha do Faial. Segundo a Irmã Catarina, “a adopção na Ilha do Pico é muito limitativa, pois há uma grande proximidade entre as famílias biológicas e aquelas que pretendem adoptar uma criança”, o que condiciona bastante o processo.

Os laços de afectividade que se criam entre as crianças acolhidas pela instituição e aqueles que as acarinham diariamente é talvez o mais “complicado de gerir”. “Ver uma criança partir com um casal, pressionada, é sem dúvida o mais difícil de aceitar”, revelou à Lusa/Ilha Maior a responsável. “Há uma angústia muito grande em saber se vão ser felizes, se vão gostar da sua nova família, mas se alguma das crianças vai contrariada, pesa-nos na consciência”, disse, acrescentando que “por vezes magoa muito”.

A Irmã adianta ainda que há jovens adoptados que continuam a manter o contacto com a instituição, mas há outros que o perdem por completo, como o caso de um jovem que foi adoptado contra a sua própria vontade e, “talvez por isso, a família tenha cortado completamente o contacto” com o lar.

Sem querer divulgar nenhum caso em concreto, a responsável salienta que “este é um desafio diário, onde não há momentos maus, mas momentos difíceis de gerir”. “Por eles vou até onde for preciso”, concluiu.

Filipa Rosa - Agência Lusa & Jornal Ilha Maior - Dezembro 2008

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