Convívio entre dezenas de pessoas caracteriza matança tradicional do porco no Pico
A matança do porco é uma das tradições mais antigas da ilha do Pico que reúne dezenas de pessoas nos vários fins-de-semana do ano, um ritual que se caracteriza pelo convívio, mas muito contestado pelas associações de protecção de animais.
Contactado pela Agência Lusa, o Serviço Regional de Estatística dos Açores não tem possibilidade de saber ao certo o número de suínos existentes no Pico, mas estima-se que sejam milhares. A maioria deles são abatidos nos matadouros para serem comercializados, mas, segundo Nuno Ramalho, que trabalha no matadouro das Lajes do Pico, “há muita gente que respeita a tradicional matança do porco em casa para consumo próprio”.
Segundo a Lusa conseguiu apurar, este fim-de-semana houve mais de 10 matanças de porcos em várias freguesias da ilha, que reuniram dezenas de familiares e amigos durante dois ou três dias.
A família Tavares Azevedo, que reside na freguesia das Ribeiras, concelho das Lajes do Pico, matou um casal de porcos este sábado, com a ajuda de cerca de 30 amigos e familiares.
Foram necessários quatro homens para segurar, amarrar e matar cada porco, que pesava cerca de 140 quilos.
Foram necessários quatro homens para segurar, amarrar e matar cada porco, que pesava cerca de 140 quilos.
Os rins e os pulmões são partes do porco “pouco apreciadas e aproveitadas para consumo” pela maioria dos habitantes do Pico, segundo Ana Neves, vizinha da família. Os torresmos, a linguiça e a morcela são os principais petiscos consumidos na ilha do Pico, sendo a sopa de cabeça de porco a mais apreciada pela maioria das pessoas.
Segundo Ana Neves, esta é uma “tradição muito antiga que reúne muita gente durante o ano, mas especialmente nos meses de Janeiro e Fevereiro”. O convívio manteve-se, segundo contou, mas a “tradicional dança da chamarrita já não é tão habitual, apesar de ainda haver jovens que tentam recuperá-la”.
De acordo com a jovem, os animais são criados e alimentados durante seis a oito meses e, depois de mortos, cada porco pode ser conservado e consumido durante quase um ano, dependendo do número de pessoas do agregado familiar.
A matança tradicional do porco é muito antiga não só na região dos Açores, como no Alentejo e Norte do país, mas muito criticada pelas associações de protecção dos animais.
De acordo com a Associação ANIMAL, “a inflicção da morte a um animal é sempre moralmente errada”. A associação lamenta que animais sejam “sacrificados num ritual que não tem, não pode nem deve ter lugar numa sociedade civilizada”, sendo “extremamente cruel a maneira como os animais são mortos”.
Para o presidente da Sociedade Protectora dos Animais, Tomás de Barros Queiroz, esta tradição é “o espectáculo mais cruel a que alguém pode assistir e uma morte horrorosa para o animal que a associação não pode obviamente aceitar”. Apesar de ser uma “tradição nacional antiga”, a matança do porco é uma prática que a associação condena a 100 por cento, tal como “tudo aquilo que faça sofrer os animais, seja tourada ou tiro aos pombos”.
Filipa Rosa - Agência Lusa - Fevereiro 2009
Sem comentários:
Enviar um comentário